Quando é que eu posso brincar?

Publicado por Carlos Ramos em

Quando é que eu posso brincar?
Atualmente a maioria das crianças em idade escolar frequenta atividades extracurriculares, benéficas para o seu desenvolvimento a vários níveis. Porém, há crianças que têm o tempo tão preenchido que chegam a ficar sobrecarregadas.

Muitas crianças não dispõem de tempo para estarem, simplesmente, sem fazer nada, o que lhes é prejudicial. Um relatório da American Academy of Pediatrics (AAP) reforçou que as crianças precisam de brincar e de ter tempo livre. Brincar, entre outros benefícios, estimula o desenvolvimento emocional da criança. A perda de tempo associada a um estilo de vida acelerado, pode ser uma fonte de stresse, ansiedade e, até, depressão. Mais cedo ou mais tarde, as crianças que estejam demasiado ocupadas começarão a dar sinais a que os pais devem estar atentos: sentirem-se cansadas, ansiosas, queixarem-se de dores de cabeça ou de barriga, que se devem ao stress, refeições em falta ou privação de sono; desmotivação para os trabalhos escolares e notas mais baixas.

A pressão para participar numa mão cheia de atividades todos os dias da semana pode ser física e emocionalmente desgastante tanto para as crianças como para os pais. Deslocarem-se diariamente “a correr dum lado para o outro” para levar os filhos para atividades consecutivas é stressante. Há famílias que chegam ao ponto de não terem tempo para interações positivas com a criança e até as refeições familiares não são realizadas em conjunto. Se se revê nesta descrição, talvez seja a altura de ajudar os seus filhos a reduzir a carga horária ou a reduzir o número de atividades extra-curriculares. A chave é reprogramar com moderação e reavaliar as atividades tendo em conta a idade, temperamento, interesses e necessidades da criança. Se algo é muito avançado ou exigente, a criança provavelmente desmotivará e será uma experiência frustrante. Se não for algo interessante para a criança, é provável que se aborreça e o faça apenas para agradar aos pais. Nestes casos, as atividades por muitos benefícios que apresentem, estão a ser contraproducentes.

De forma a definir limites razoáveis e mais agradáveis para toda a família apresentam-se algumas sugestões.

  • Definir que porção do tempo livre da criança poderá ser ocupada por hobbies (uma tarde por semana? Uma hora de atividade três vezes por semana?) e deixando tempo livre para a criança poder brincar, e para atividades não planeadas (consultas médicas, explicações, etc.). Ter um calendário com as atividades anotadas permite perceber se o tempo está bem distribuído (tempo letivo, estudos, hobbies, lazer, convívio familiar) e permite que a família se organize melhor.
  • Contar com o tempo das deslocações entre a escola, o hobbie e casa, percebendo se há momentos em que a criança não consegue alimentar-se adequadamente e ter tempo para fazer tarefas fundamentais calmamente, tais como os trabalhos de casa e momentos de lazer com a família. Neste caso, a continuidade deste hobbie neste dia da semana deve ser reavaliada.
  • Explicar à criança que têm de ser estabelecidas prioridades, nomeadamente a escola e o convívio familiar e isso implica limitar o número e carga horária de atividades. Neste sentido, conversem com a criança como poderão reduzir esta sobrecarga de ocupações. Poderá fazer uma lista das atividades que pratica por ordem de preferência para a criança e ficar combinado experimentá-la noutra altura (nas férias ou no ano escolar seguinte).

Lembre-se, para terem um desenvolvimento saudável e serem felizes, as crianças precisam de tempo para serem crianças e terem momentos para brincadeira livre ou simplesmente não fazerem nada.

É agora que vamos brincar?

Por Raquel Carvalho
Psicóloga Clínica - Oficina de Psicologia

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